3 de outubro de 2011

Coitadinho, tão estressado!

Por Cláudio de Moura Castro

A Senhora Deborah Stipek se preocupa com o stress dos seus alunos que tentam entrar em universidades hipercompetitivas. Poderiam ser mais felizes e tão bem-sucedidos se fossem para outras com menos nome. Corretamente interpretado, é um comentário pertinente. Contudo, ela é diretora do Departamento de Educação de Stanford e a nota saiu como editorial na revista Science, ambos prestigiadíssimos. Há o risco de ser mal interpretada no Brasil, onde alguns festejam as desculpas para a malandragem. Dito e feito, foi isso que lemos na nossa imprensa.Entendamos o stress. Sentindo a ameaça de ser comido por uma onça, o corpo reage, reajustando o fornecimento de energia para cada órgão e preparando-se para fuga ou a luta. Hoje há menos perigos físicos, mas a reação é a mesma, diante de uma ameaça, seja o medo de levar bomba na escola ou perder a promoção. Porém, os caminhos do stress são tortuosos (além do que poderíamos explicar aqui). Em primeiro lugar, o que causa stress não é a ameaça em si, mas nossa insegurança de lidar com ela. Pesquisas mostraram baixo stress em advogados defendendo causas difíceis, o qual virava alto stress diante do trânsito engarrafado. Policiais de Los Angeles tomam facas de criminosos, perseguem bêbados na estrada e terminam o dia na delegacia fazendo seu relatório. Supressa! O stress só aparece na delegacia, absolutamente segura. A lógica é cristalina. O advogado passou anos se preparando para lidar como stress dos tribunais, mas não os imponderáveis do trânsito. O mesmo ocorre com o policial. Tomar facas é sua profissão. Escrever um relatório que pode ser criticado por seus superiores é terreno pantanoso.Em segundo lugar, stress não é necessariamente uma coisa ruim. Pode ser boa. O ato de criação pode ser estressante. Tarefas desafiadoras podem ser estressantes e boas. Portanto, evitar o stress pode significar distanciar-se de realizações. Entras nas universidades de primeira linha é dificílimo. Mas é nelas que se concentram as melhores cabeças e de onde saem as melhores ideias e inovações. É por isso que ouvimos falar tanto de Harvard ou Stanford. Aliás, a professora Stipek trocaria seus orientandos por outros, de universidades mais fáceis?Voltando à escola, o stress não tem a ver com o número de horas de estudo ou com a dificuldade do assunto ou sua chatice – mas com a falta de preparação para lidar com isso. Um coreano pode passar doze horas estudando, todos os dias, sem stress, pois é seu hábito. Um brasileiro que estuda dez minutos por dia vai ficar estressado se tiver que estudar meia hora. Uma pesquisa curiosa ilustra a desconexão entre o stress e suas causas. Verificou-se que alunos asiáticos ficavam estressados quando tiravam notas ruins, trazendo a vergonha à família e pondo em jogo sua reputação. Em contraste, americanos ficavam estressados quando tiravam notas boas, pois eram malvistos pelos colegas e xingados de nerds. Sofrer com o stress não é uma fatalidade. A solução é aprender a lidar com ele, como fazem os advogados e policiais citados. Achar que os alunos estão estressados porque estudam demais é parte do cacoete que explica nossos péssimos resultados nos testes internacionais.Em uma pesquisa que realizei, foi possível notar que os alunos do supletivo dedicavam mais horas à televisão por dia do que ao estudo durante toda a semana. Outra pesquisa mostrou que, quanto mais elevada a série, menos o número de horas de estudos diários – com maior maturidade, deveriam estudar mais. Mesmo às vésperas do vestibular, as horas de preparação são poucas, até no ensino privado. Os números mostram: nossa educação combina uma jornada escolar curta com míseros minutos estudando em casa. É o pior dos mundos.Previsivelmente, o editorial da Science logo despertou o instinto maternal nos nossos luminares: coitadinhos dos nossos alunos, tão estressados! Mas está errado, se há stress, não é por excesso de dedicação, por horas demais diante dos livros, mas por falta de hábito de estudar. Estressado é quem nunca estudou direito e, de repente, ouve dizer que para passar no vestibular é preciso mudar de vida. A solução não deve ser estudar pouco ou buscar um curso fácil, mas aprender a estudar e aprender a lidar produtivamente com o stress.

Fonte: http://jorgewerthein.blogspot.com/2011/08/coitadinho-tao-estressado-por-claudio.html

É Só uma Faculdade, Gente!

Por Rosely Sayão

Qualquer curso pode ser feito por qualquer jovem. Mesmo. De preferência, um que não o faça sofrer muito.

Neste momento, muitos jovens estão preocupados ou ansiosos em demasia com o que os espera no futuro próximo em relação aos estudos. São eles os que irão iniciar o ensino médio no próximo ano letivo e os que estão prestes a terminar o mesmo ciclo. O motivo? A escolha que terão de fazer para o ingresso na faculdade. Eles acreditam existir um curso -UM!- que dará sentido à vida profissional deles. A escolha que farão terá de ser, portanto, exata, precisa. Não podem errar, não podem vacilar, não podem hesitar. Essa decisão, tomada perto dos 17 anos, deverá ser definitiva.
E dá-lhe orientação profissional, vocacional e coisa que o valha. Apesar disso, bem perto dos 45 minutos do segundo tempo, a maioria deles estará indecisa. E mesmo os que fizerem uma escolha duvidarão dela rapidamente. Cerca de 40% dos universitários desistem do curso que escolheram no primeiro ano da faculdade. O que foi que fizemos com os jovens para que eles caíssem nessa roubada? Contamos historias fantásticas a respeito da vida adulta profissional, construímos fábulas muito bem estruturadas sobre a vida e o trabalho, apontamos o êxito como meta de vida, associamos prazer no trabalho com felicidade, não é verdade? Isso sem falar no conto da vocação.
E eles sofrem com as dúvidas mais do que certas que surgem nessa hora. Claro! Em um mundo com tantas profissões novas somadas às tradicionais mais as já desgastadas etc., o que priorizar? Depois, como reagimos quando eles entram na faculdade e não conseguem se comprometer mais com os estudos nem dar sentido ao que estão fazendo e comunicam isso de maneira um tanto quanto desajeitada? Sentimos pena deles por terem de fazer uma escolha tão importante na vida assim, precocemente.
É por isso que virou moda, na faixa de população com alto poder aquisitivo, fazer o filho tirar um ano sabático antes de escolher a faculdade e prestar o vestibular.
“É um tempo bom para amadurecer”, me disse um pai. Mas não é justamente para isso que serve toda a adolescência? Então, por que fizemos tanta pressão nos primeiros anos da vida deles? Por que exigimos que eles rendessem nos estudos na fase em que deveriam brincar? Talvez o sabático seja uma compensação que queremos oferecer em relação aos anos de infância que roubamos deles, não é verdade? O fato é que esses filhos que foram jogados no mundo do conhecimento sistematizado ainda na primeira infância, fortemente poupados da realidade o tempo todo, impedidos de crescer na segunda parte da infância e abandonados aos seus caprichos na adolescência não conseguem nem sequer enxergar o mundo em que eles vivem. Esse mundo, que muda tão rapidamente, tão pleno de diversidades, complexidades e possibilidades, permite um leque enorme de trabalho dentro de uma mesma profissão. Então, por que tanto drama para escolher um curso?
Qualquer curso pode ser feito por qualquer jovem. Qualquer mesmo. De preferência, um que não imponha a ele sofrimento demais considerando suas habilidades, seus interesses e suas preferência pessoais. E depois? Ora, chegada a maturidade, sempre há saídas virtuosas e honrosas para qualquer um. É só uma questão de comprometimento, de responsabilidade consigo mesmo, de esforço e perseverança. Mas tudo isso tem sido uma moeda rara na atualidade. Vamos facilitar a vida dos mais novos, vamos tornar essa escolha menos importante. Um curso universitário é só um curso, apenas isso. Jamais será definitivo na vida de alguém. Fazer o curso do começo ao fim, com todas as dificuldades, os dissabores e as frustrações encontrados no percurso é que pode ser algo valioso para o amadurecimento do jovem, muito mais do que o curso escolhido.
Simples assim.

Fonte:http://www.sonhosdecrepom.com.br/v1/2011/09/e-so-uma-faculdade-gente/